Dentre os vários gêneros que o Heavy Metal teve a capacidade de criar ao longo dos anos, o Gothic Metal, aliado ao Doom Metal é o que melhor consegue transmitir sentimentos e atmosferas através da identidade mantida da banda Samanttha, além de ser o que mais preserva a essência da obscuridade composta dos gêneros inclusos no Metal. A banda carrega uma bagagem extremamente importante e incentivadora há mais de quinze anos e é um dos principais nomes do gênero em nossa região Nordeste e uma das bandas de maior destaque no nicho do Funeral Doom nacional. Nesta conversa conduzida é retratado um pouco de como a banda surgiu, detalhes pouco falado antes, hiator, sobre a visão do gênero executado e muito mais. Confira:
Pedro Hewitt - Saudações a todos, caríssimos. Satisfação total para mim poder realizar esta entrevista. Prestem suas devidas colaborações atualmente.
Samanttha: Olá Pedro, um prazer enorme conversar com você, sempre. Obrigado pelo espaço!
Pedro Hewitt - Conheci o Samanttha pela primeira vez em algum ano no finado Orkut, especificamente na comunidade Metal PI, um clássico (risos). Desde então me perguntei como fundaram a banda, como surgiu a mesma no ano de 2005 em meio um período em que o Black Metal predominava?
Samanttha: Àquela altura, realmente no cenário piauiense despontava muitas bandas do gênero Black Metal, de onde tínhamos e sempre tivemos amigos que nos apoiavam e nos ajudaram de muitas formas. No entanto, nossa proposta era o doom/gothic, poesia comum a nós, e nunca víamos tanta distância entre estes universos, visto que o Black Metal também estava no meio das nossas influências sonoras. Em suma, a predominância do Black Metal definitivamente não era uma questão pra nós, pois sempre fomos respeitados.
Pedro Hewitt - Um dos maiores diretores do terror cult, Wes Craven, em 30 de abril de 1987 nos presenteou uma combinação curiosa de medo, susto e trama bem eficiente, isso resultou no filme ''A Maldição de Samanttha''. Talvez eu tenha passado longe da originalidade, e isso desperta a pergunta; de onde surgiu a ideia de ser simples e um nome feminino?
Samanttha: Apesar da amistosa referência, o nome Samanttha para a banda surgiu num contexto um tanto diferente, e até onírico. Anteriormente (ainda apenas um projeto musical bem embrionário), por influência do nosso baterista Samuel, a banda se chamaria Samhain, e assim até ficou até quando durou aquele momento de planejamento e primeiras composições. Por alguma razão que agora não lembro bem, decidimos abandonar a ideia. O Sergio Holom veio a ter um sonho certa noite com esta figura e nome feminino. Ao acordar a lembrança fica, e então trouxe a sugestão do nome Samanttha, oriundo de seu sonho.
Pedro Hewitt - A banda passou anos de hiato, mas voltou em busca da execução da velha forma de apresentar música obscura, lenta e que desperta a objetividade técnica. Várias referências podemos encontrar na parte em geral, então na visão de vocês é menos comum ver bandas do mesmo gênero se baseando nas mesmas referências? Vocês acompanham mais bandas aqui no país ou lá fora?
Samanttha: Agora há pouco eu mencionava a sonoridade do Black Metal como uma de nossas referências, não é mesmo? A Samanttha é resultado do desejo artístico (pra não dizer somente musical) de todos nós. Mas tratando especificamente de outras bandas, somos atraídos por distintas referências. Bandas clássicas nacionais entram no rol, com certeza, mas confesso que bandas de fora acabam por predominar, devido à imensa variedade disponível.
Pedro Hewitt - Não vejo como fama, muito menos alguma forma de degradação do cenário, mesmo o Samanttha aparecendo isoladamente em um evento, ou divulgando algo, enfim, é fato que são bem seletos e criteriosos com bastante coisa. Qual foi o verdadeiro motivo que incentivaram a banda a entrarem em hiato e retorno aos palcos?
Samanttha: Gostamos e temos a pretensão de apresentar ao público tudo aquilo que trabalhamos com esmero da melhor maneira possível. As pausas nas nossas atividades acontecem por variadas razões, as vezes por estarmos trabalhando em algo para o futuro, as vezes por vermos que os eventos de maneira geral não estão acontecendo no cenário local... Mas estamos sempre tentando articular, mesmo longe dos palcos, bons projetos e respostas para o público.
Pedro Hewitt - Para retornar aos palcos vocês já tinham o álbum ''Bards Elegy''? Os preparativos foram feitos no mesmo período de retorno ou já possuíam uma pré-produção antiga?
Samanttha: Já possuía um pré-produção, sim. O Bards’ Elegy é uma homenagem e reunião da nossa história, das nossas músicas mais antigas às mais novas. Voltamos aos palcos e o lançamos de maneira conjunta.
Pedro Hewitt - O resultado foi obtido graças a reformulação dos integrantes ou foi apenas consequência natural? Foi importante isso também a focar em algo mais funeral?
Samanttha: Trabalhar com bons músicos, e principalmente se estes são seus amigos, certamente faz com que um amadurecimento musical seja bem estimulado, e antecipado. Ou seja, estar alinhado com músicos que se entendem culturalmente, faz com que tudo ocorra de maneira bastante proveitosa e, em nossas composições ser entoado o ritmo agressivo e lento do Funeral é resultado de uma expectativa comum à todos.
Pedro Hewitt - Desde a criação da banda desafios não faltaram, dificuldades nunca faltarão. Quais mudanças acreditam que presenciaram após o hiato? O cenário se renovou como deveria?
Samanttha: Estamos falando de um cenário que podemos chamar de “underground” em um Estado também underground no que se pode dizer de incentivo artístico musical, o que torna as coisas um tanto difíceis, sim, sem querer ser ingrato aos programas existentes há tantos anos que participamos inclusive, mas falo de uma maneira geral. Faz parte de toda a nossa cultura, na verdade. No entanto, diante das dificuldades, vimos muitas bandas nascerem e acabarem, muitos amigos já não trabalham mais com música. Então não, não se renovou como deveria.
Pedro Hewitt - Um tempo atrás a gravadora russa GS Productions anunciou o lançamento do CD, vindoura após o longo hiato existente. Materiais como este certamente são primordiais para o cenário Doom Metal em geral, então como se deu essa parceria? Porque assinaram como alguém de fora e não daqui?
Samanttha: A gravadora e selo russo GS Productions entrou em contato com a gente. E claro, não fomos a primeira banda brasileira com quem eles trabalharam, o selo já apoiou bandas como o Torture Squad, por exemplo. Eles se mostraram interessados em lançar nosso material, e a negociação foi muito tranquila e cordial. Pontualmente fechamos negócio e em poucas semanas nossas cópias já estavam aqui no Brasil, em nossas mãos com boa parte do material gráfico pronta, pois a arte da capa eu mesmo fotografei. Ao mesmo tempo, Pedro, aqui no Brasil fomos felizes com o selo Eclipsys Lunarys Productions, que foram responsáveis pelo nosso lançamento aqui no Brasil e do qual temos muito honra e gratidão.
Pedro Hewitt - Todo o contexto lírico e artístico em si do Samanttha são muito bem elaborados, bastante inteligentes, complexos e profundos, pois fica claro que a transmissão do que se trata parte da psique humana até o último segundo de vida. Aprofundado em nostalgia e anseios das lembranças, existe algo adicional por trás da produção? Falem a respeito da ideologia e de todo o lirismo.
Samanttha: Você tem razão. O sentimento verdadeiro, por trás do véu que as relações comuns e burocráticas sociais demandam, será sempre o âmago por trás de tudo o que se torna a criação. Assim sofreram grandes poetas simbolistas, românticos, assim sonharam. Se tivermos que descrever uma bandeira que venha a ser nossa ideologia e fincá-la frente à nossa obra, será essa por trás do véu, ou como sugere Camus, esse absurdo que nos pertence.
Pedro Hewitt - Presumo que todos assim como eu ao ouvir todo o material em mídia digital antes da divulgação física se sentiu maravilhado e com as expectativas atendidas. Como foi e como está sendo a reação dos amantes do gênero e curiosos de plantão? O Piauí demonstra a devida atenção, mesmo tendo pouquíssimas bandas que circulam no meio que tocam?
Samanttha: Muito obrigado Pedro, fico muito feliz com teu comentário! Sempre ouvimos pessoas aqui no Piauí nos apoiando bastante, demonstram interesse e muito respeito pelo que fazemos. Sempre. Com o lançamento do Bards’ Elegy fora e dentro do Brasil, certamente nossa música antes mais restrita pode chegar a terras mais distantes e recebemos muitos elogios e agradecimentos pelo que foi produzido, e isso pra nós é mesmo muito gratificante!
Pedro Hewitt - No princípio sem dúvidas obtiveram ótimas referências regionais, atualmente mesmo com poucas no Piauí pode ser que façam "troca de execução", podemos dizer assim. O que o Samanttha aprende ou repassa ao lado de bandas como Saturnia, Into Morphin (ambas as fases)? E o que podem absorver com o "novo ambiente" do submundo Underground?
Samanttha: Into Morphin foi e sempre será uma referência pra todos nós. Quando pensávamos em ter uma banda, ainda na tenra idade, Into Morphin já lograva de muito respaldo com seu disco. E que disco! Eu ouvia sempre na extinta Rádio Rock. Os músicos do Saturnia são nossos amigos e, em todos os seus anteriores projetos sempre obtiveram bastante admiração, mais que merecida! A música, como uma obra de arte, é a representação de um desejo daquele que o faz, e o trabalho de ambas as bandas merece a devida atenção.
Pedro Hewitt - Todos fora de palco possuem suas atividades individuais. Estão trabalhando em algo para unificar em futuras produções?
Samanttha: Sim, temos muitas composições novas prontas para serem melhor finalizadas. Mas ainda não decidimos quando e de que forma o novo material será lançado. Embora gostemos muito da linguagem audiovisual. Que, sabe não vem a ser lançado neste formato?
Pedro Hewitt - Diante evoluções, acontecimentos, lançamento primordial, como percebem a inserção de mais um disco no cenário nacional e internacional? E claro, como observam o mercado musical para as bandas que estão crescendo aos poucos?
Samanttha: Ter mais um disco circulando no mercado é ter mais uma oportunidade de absorver algo novo, não é mesmo? Um novo olhar, novos arranjos, uma nova maneira de contar uma história (claro, na melhor das intenções falando), ainda que diante de um universo imenso de criações nascerem diariamente. As bandas em atividade, bem como as novas, dispõem a cada dia de mais facilidade de produção: discos podem ser produzidos no conforto de casa e no outro dia ser lançado para o mundo inteiro. A variedade continua (não necessariamente obras autênticas), para todos os estilos.
Pedro Hewitt - Findamos esta, grato demais pela disponibilidade e por voltarem aos palcos. Contem sempre com meu apoio. Ode ao oculto.
Samanttha: Muito obrigado novamente e sempre será um prazer. Obrigado pelo apoio de sempre, Pedro!
Para mais informações, shows e merchandise:
Créditos de fotos: Caverna Produções. Alline Vasconcelos. Dyego Lisboa. Divulgação.
Fonte: Detector de Metal
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