Pedro Hewitt: Saudações galera da ilha do caos, como estão vocês? Satisfação total em entrevistar vocês.
FATAL: Saudações barulhentas,
irmão. Estamos bem na medida do possível. A satisfação é toda nossa por essa
oportunidade.
Pedro Hewitt: Gritarias e acordes múltiplos se
multiplicam cada vez mais pelo nosso querido Nordeste. Porque escolheram um nome
tão simples, mas que diz tudo sobre a nossa realidade brasileira? Afinal, nossa
história está se tornando um mar de fake News e carnificina.
AHNYSHA: Em meados de mil
novecentos e bolinha, A Fatal tinha outro nome: "F.L.A.G.E.L.O".
Quando fizemos uma respiração boca à boca e a banda ressurgiu bem mais porrada,
decidimos que precisaríamos mudar.
MNAC: Quando estávamos discutindo
a possibilidade de revisitar esse projeto paralelo à SavageZ – no extremo
oposto daquela linha – decidimos por um nome “curto e grosso” mesmo. Simples,
mas que resumia nosso trágico sentimento quanto ao panorama sociopolítico hoje.
Além de fazer homenagem a uma certa franquia de jogos que gostamos (GET OVER
HERE!).
Pedro Hewitt: Seja Fatalidade ou Fatal Idade, a
marca registrada da banda desde seu nascimento é o som violento e a desordem do
padrão musical. Como se deu a criação do primeiro registro de vocês, O TERROR?
FATAL: O nome oficial é separado,
mas nós falamos junto para dar mais consistência ao trocadilho (Risos). Bem,
quanto à composição d’O Terror, Mnac tinha alguns riffs e músicas antigas que
não gostaria que caíssem em desuso então apresentou as ideias e fomos esculpindo
a desgraça. As cantigas só foram ficando cada vez melhores menos piores.
Pedro Hewitt: Cacofonia é minha faixa preferida
do material, existe alguma faixa particular para vocês que foi o RAAAAAGE da
banda? Ou ainda estão moldando para um próximo álbum?
AHNYSHA: Cacofonia é a minha
favorita, mas acredito que Socialverdose seja a mais marcante para mim, pois
reflete bem o nosso quadro e da maioria dos brasileiros, infelizmente.
JOÃO: Golpeception. Fala sobre
uma ideia gritante e muito sintomática na política atual, e o som em si é uma
sapatada. Mesmo para mim que entrei por último na banda, tive que ir aprendendo
as músicas e tal, nesse som é tudo muito claro e simbólico. É tipo dizer, “caso
alguém ainda tenha dúvida, todo dia tá rolando um golpe dentro do golpe.
Precisa dizer o quê, ainda?”.
MNAC: Desse álbum a minha
favorita é Bala Perdida, porque foi a que me pareceu mais completa e que mais
nos surpreendeu ao final da gravação. Mas se liguem que o próximo registro (que
não tarda a falhar) já está com algumas porradas na orelha bem encaminhadas.
Pedro Hewitt: Muitas bandas arriscam tocar em
inglês, mas falham, outras em português, falham mais. Felizmente vocês
acertaram legal até no timbre dos vocais. Praticamente todos os sons de vocês
são em português, qual importância da língua hoje em dia no Underground?JOÃO: Acredito que em português
fica tudo mais próximo, mais claro e acessível, né. Você consegue fazer a
mensagem atingir um número bem maior de pessoas no Underground, sem as
restrições de uma língua estrangeira que só uma galera bem seleta iria
entender. Sem falar que berrar as coisas em português agrega muito a essa coisa
do “direto na fuça”, que é tão importante no HC e no Grind. Você consegue
passar ideias mais fortes, causar mais impacto, provocar reflexão e até mesmo
dar eco às palavras de ordem dos movimentos sociais nas suas letras, por
exemplo. E, assim, para esse momento político tenebroso no Brasil então, essa
clareza que o português traz é um ótimo recurso para se posicionar nas letras e
cortar qualquer chance de ambiguidade ou má interpretação. Assim fica
relativamente fácil da gente fincar o pé que o rolê é antifascismo e toda forma
de opressão. Não fica nada por dizer.
MNAC: Nós queríamos que nossa
mensagem fosse bem compreendida por todos nossos conterrâneos, e não ligamos
muito para o idioma gringo na verdade (Risos). Pelo menos não nesse momento.
Dado o cenário de hoje, acho importante que a mensagem consiga se fazer clara,
ainda que em gutural ou scream, principalmente no Underground.
Pedro Hewitt: Ainda sobre questão de material,
podemos observar que o mercado de gravações e formatos de distribuição ao mesmo
tempo que se limitam, ampliam, concordam?! Hoje está mais fácil gravar e lançar
o material com maestria?
FATAL: Sobre gravar, tem muito
produtor competente na área. Talvez seja impressão nossa, mas, só lamentamos
que muitas bandas sempre surjam com timbres e sonoridades semelhantes demais entre
si, talvez por conta da limitação dos programas e plugins que o pessoal consegue
crackear com mais facilidade, ainda mais quando comparamos bandas dentro de um
mesmo estilo. Sobre lançar, temos aí várias plataformas grátis então acaba
facilitando, visto que o som digital está cada vez mais em alta. Acaba que por
termos mais opções, pode acabar dividindo o público. Mas sei lá talvez isso não
seja necessariamente ruim.
Pedro Hewitt: Sabemos que o Grindcore não fica
por baixo dos panos e fica em alguns hiatos, ainda mais em relação a espaços
para poder tocar com uma certa frequência, não sabemos ao certo o motivo desse
‘’quem sabe na próxima’’. Na opinião de vocês, o cenário atual está mais forte
ou ainda está meio termo? Quais pontos precisam melhorar?
JOÃO: Em se tratando de São Luís eu ainda sinto falta de
uma certa diversidade, digamos assim. De estilos, públicos, mais interação
entre os nichos e assim por diante. Mas o que já rola por aqui também é bem
forte e não demora muito a surgir bandas novas, com gente nova, isso é bem
legal. Dá uma puta motivação ver uma galera da mesma idade da gente no palco. E
o melhor de tudo é que aos poucos isso já tá rolando com Grind, Death e Crust aqui
na ilha também. Os últimos eventos – incluindo o último que a gente tocou, o
Facada Fest – atestam isso. A cena tá abrindo espaço, as pessoas tão perdendo o
receio de experimentar e inovar (eu vi um vocalista sacar um pandeiro no palco
pra fazer a intro de uma música hehehe). No começo a gente reclamava que o Grind
não era muito aceito, mas vai ver as coisas tão num processo natural aí. Agora
a gente precisa continuar se movimentando também, para não deixar a peteca
cair, né.
MNAC: Ouso ser um pouco otimista
aí. Mesmo com todas as dificuldades, parece que a pequenos passos estamos
melhorando. Mais gente está gostando de estilos semelhantes, mais gente está
querendo fazer bandas e ouvir bandas novas dentro dessa proposta, mais gente
está querendo trazer essas bandas para eventos – mesmo que tudo isso ocorra em
números não muito expressivos. Talvez seja uma questão de tempo e adaptação, de
apoio ou reeducação musico-ideológica que ainda está por vir. Vamos esperar pra
ver.
Pedro Hewitt: Podemos afirmar que lançando o próximo
álbum por um selo internacional é o reflexo do cenário nacional?
FATAL: Pensamos que as bandas
estão querendo sempre expandir sua base de fãs e de oportunidades. Por algum
motivo parece que paradoxalmente os selos internacionais estão conseguindo mais
espaço para o próprio país de origem da banda que os nacionais. Não sabemos
exatamente a razão disso.
Pedro Hewitt: Contudo, na humilde opinião de
vocês, como percebem a inserção de mais um disco no cenário nacional? Aliás,
como vocês olham o mercado musical para as bandas que estão crescendo aos
poucos?
FATAL: É uma selva, claro. O
mercado está sempre atrás do que dá mais view, mais lucro, mais grana. Mas
sinceramente não ligamos muito pra isso. Só queremos fazer nosso som e o
mercado que se foda, rs. Infelizmente muitas bandas necessitam disso pra viver
então é uma pena. É ótimo que tenhamos cada vez mais público, opções,
oportunidades. Mas é preciso um conhecimento de divulgação bem aguçado, assim
como bons contatos, para se galgar um lugar ao sol. O importante é ter vontade
e disposição, de resto, de tentativa em tentativa, uma hora se acerta.
Pedro Hewitt: Ter algumas bandas ou projetos
extras é um tanto trabalhoso, falo por mim, as vezes misturo as letras por
falta de equilíbrio de paciência. Expliquem como funciona ou a forma que fazem
para conciliar outros projetos e suas vidas fora de palcos, até porque existem
muitos por aí que estão na dúvida por onde começar.
AHNYSHA: Taí uma coisa bem complicada mesmo, ainda mais pra
quem estuda/trabalha, no meu caso, ainda me resta um pouco de tempo pro lazer
que eu adoro usar com a Fatal e a SavageZ e a gente consegue conciliar as duas
bandas perfeitamente. Acho que a pergunta que você tem que se fazer antes é: eu
conseguirei manter mais de um projeto sem prejudicar o outro? Se a resposta for
sim, te joga meu irmão.
MNAC: É foda. Se ter uma banda já
é difícil quem dirá duas ou mais, admiro muito quem consegue, tendo também que
trabalhar, estudar e ter uma vida sadia. Eu, pessoalmente falando, acabo tendo
que sacrificar algum desses pontos no processo, e geralmente é a vida sadia
(Risos). O ideal seria traçar objetivos e tentar se organizar para conseguir
cumpri-los uma hora ou outra. Por mais que demore, dá pra chegar lá com alguma
persistência e paciência. O mais difícil é começar, mas uma vez que isso foi
feito, o resto se desenrola.
Pedro Hewitt: Bandas como Manger Cadavre?,
BadTrip, Corja, etc, que possuem como frontgirls grandes guerreiras. Ahnysha,
como é ser uma vocalista numa banda Underground hoje em dia? E o preconceito
por aí? A porra do machismo e da falta de empatia merece cada dia que passa
mais desprezo, assim como quem defende atitudes de tais.
AHNYSHA: Cara, em todo canto vai
ter gente babaca, triste realidade, por incrível que pareça ainda tem gente que
acha que as mina tão em banda pra chamar atenção de macho (Risos). Representar
tantas mulheres no palco e fora dele é uma responsabilidade pra mim e é
simplesmente incrível, não tem um dia em que eu acorde e não me sinta tão feliz
e realizada em fazer o que eu mais gosto, rasgar tímpano alheio!
Pedro Hewitt: Ainda pra frontgirl, como você
avalia as mudanças no cenário independente feminino de uns anos pra cá?
AHNYSHA: Tenho observado o
crescimento do verdadeiro suporte que a galera tá dando no geral, as minas estão
perdendo o medo de meter a cara mesmo sem ligar pra opinião de gente frustrada.
Estamos conquistando nosso mais que merecido espaço, a gente veio pra ficar e
pra arregaçar tudo!
Pedro Hewitt: Após uma breve jornada de
apresentações após o lançamento do material, ouvi dizer que irão desembarcar em
Teresina em 2020. Quais as expectativas? Creio que o calor irá agradar com a
agressividade sonora.
AHNYSHA: Será um enorme prazer
visitar Terehell novamente, só que dessa vez é pra deixar todo mundo atordoado!
No bom sentido, claro que não, (Risos).
MNAC: Será um sonho realizado
tocar numa terra tão infernal e vibrante de barulho e revolta. Não vemos a hora
de podermos contribuir com uma cena e com pessoas que admiramos tanto.
JOÃO: Rapaz, pelas redes sociais a gente enche os olhos com todo lugar
que tenha banda massa e fica babando daqui com vontade de ir. Nunca param de
chegar vídeos, posts e histórias que dão pra gente um vislumbre de como é a
energia dos lugares e é assim que eu prefiro construir minhas expectativas,
sabe? Teresina com certeza é um desses lugares. Então, se rolar mesmo, em
Terehell (já pode chamar assim?), a esperança é das melhores. O nosso melhor a
gente vai dar, com certeza. A bagagem vai cheia de água mineral, expectativas e
blast beat.
Pedro Hewitt: Saúde aos fortes e muita facada
aos fracos. Obrigado pela atenção, grinders, espero que nos encontremos logo
menos, seja em splits, eventos, enfim. Grande abraço! Acreditem sempre no
Grind!
FATAL: Somos nós que agradecemos!
Que estejamos cada vez mais unidos como pudermos para enfrentar toda a
tempestade de merda que está vindo em nossa direção! Tamo junto pro que der e
vier. In Grind We Crust!
Para mais informações, shows e merchandise:
0 comentários :
Postar um comentário