BADTRIP: ''Não é porque é algo “sujo” que precisa ser algo “escroto”

A luta contra a opressão de gênero, censura, confusões diárias via rede social e forma física, jamais pode se dissociar da luta contra todo o sistema conhecido e atual, que perpassa por discriminações étnicas, geracionais, classes sociais, dentre outras.
Saindo um pouco da zona problemática, sempre é bom buscar novos meios de manifestação, tendo o Underground como um leque de oportunidades, assim entrevistamos uma das melhores representantes do cenários atual do Thrashcore Brasil, BadTrip

Pedro Hewitt - Por meio de fatores que levaram vocês a desencadear doenças psicológicas já pre-existentes como síndrome do pânico, transtornos e até mesmo levá-los á espancar indivíduos racistas, fascistas e oriundos de métodos negativos, eis que surgiu a BadTrip. Saúdo vocês e desde já agradeço a atenção para responder esta entrevista!
Thais, fale um pouco do início da banda desde a ideia fundamental sobre o conceito, passando pela opção pelo Hardcore/Thrashcore, e escolha do nome.
Thaís de Aguiar - É uma honra está dando uma entrevista para alguém que admiro muito na cena de Teresina e que se tornou um grande amigo! Obrigada pela oportunidade. Deixarei com que o nosso baterista Robson França responda essa primeira pergunta por ter criado a banda.

Robson França - A ideia pra formar a banda surgiu quando comecei a ir em eventos de bandas de Hardcore, em 2016, antigamente eu só conhecia, mas não frequentava o Underground, em 2017 depois que sai da banda que eu tocava, que era de Thrash, eu já tinha em mente ter uma banda de Hardcore, mas, eu gostava e gosto muito de Thrash, por isso o Thrashcore, a união de dois estilos que amo, o nome da banda surgiu quando me tornei SxE, muitos conhecidos meus, estavam nessa onda de trance e se drogando como se não houvesse amanhã, ai conheci o termo BadTrip, a BadTrip é o termo usado pra umas consequências bem ruins quando a pessoa abusa de drogas psicoativas, correndo risco até de morrer, e o nome se adequa bastante ao fato da banda ser SxE, como uma crítica, e tudo isso, joguei em um caldeirão, misturei, coloquei Thaís e João e surgiu a BadTrip.

Pedro Hewitt - Desde que conheci a banda, é nítido que as letras são bem diretas e completamente ácidas. Quais as principais influências da banda, não se restringindo apenas no lado musical? E como funciona o processo musical de cada composição?
Thaís De Aguiar - Uma coisa que nós da BadTrip queremos fazer no som e na letra é ser diretos e rápidos (na velocidade). Geralmente falamos da política do Brasil, cotidiano em geral e sobre doenças que daqui um tempo vai estar muito mais presente nas nossas músicas. A ideia principal era apenas falar sobre uma temática, mas vimos que gostamos sempre de abranger então facilita bastante até na hora da composição que geralmente é feita por mim, Robson e o João que começaramcom as primeiras letras.
Nessa questão da composição a gente pega algum acontecimento histórico, recente ou que acontece com um de nós.

Pedro Hewitt - Vocês lançaram um lyric fabuloso de ‘’Só a Violência Muda a Vida’’, falem mais de como foi esta aventura?
Thaís De Aguiar - Foi tudo muito incrível! Primeiramente porque o nosso amigo Andro Baudelaire (Vinyl Laranja/The Baudelaires) deu essa oportunidade única de gravarmos pelo estúdio dele (Abbey Monsters) dois singles que foram “Dono do Mundo” e o principal “Só a Violência Muda a Vida” que foi escrita pelo primeiro vocalista da banda, Júnior Santos.
O processo dessa gravação foi muito bom, aprendemos bastante e vimos como é gravar com a banda.
Acredito bastante que os Singles e o Lyric Vídeo fez a BadTrip ganhar mais espaço no Underground e hoje dá uma emoção nos shows ao ver a galera cantando e pirando quando tocamos.

Pedro Hewitt - Impossível não cantar as músicas de vocês (Pelo menos eu já consigo roubar o microfone e fazer alguns feat hahahahaha graças aos vídeos de ensaio que as vezes vejo), ainda mais sem apelar para letras chatas e massivas. Levando em conta a facilidade da letra, qual a importância do português hoje em dia no Underground? Acha que o impacto delas possuem um poder de conscientização?
Thaís De Aguiar - (Risos) Inclusive precisamos gravar um feat com você! Ficaria lindo teu vocal em uma musica nossa.
Tem uma importância gigante, inclusive já ajudei algumas bandas de amigos nessa hora de facilitar na escrita da música e também para cantar. Não é porque é algo “sujo” que precisa ser algo “escroto”, não estamos aqui só para tocar mas sim para facilitar a compreensão do que queremos dizer e protestar nos sons.
Causa um impacto sim, eu no começo pensava que as músicas ainda estavam fracas, porque sempre quero dizer muito mais.
Mas diversas pessoas vieram elogiar as letras e gostam do ar de “sarcasmo” que usamos e então eu e o João sempre tentamos manter viva essa linha.

Pedro Hewitt - Muitas vezes existem os ‘’fiscais do andergraudi’’ que falam muito de visual, de posicionamento, enfim. Vocês têm alguma preocupação com visual? Concordam que atitude e beleza são inconciliáveis em cima de palco?
Thaís De Aguiar - Essa pergunta ficou ótima para a música “Dono Do Mundo” que lançamos como single também, pois fala exatamente disso, de pessoas que querem ser o dono do mundo pelo seu visual e por sua falta de caráter. Existem muitos no Underground que só ligam pra seu “visu” e largam o foda-se para o posicionamento, acho isso bem patético mas engraçado também.
Não temos nenhuma preocupação com visual, se um de nós aparecer florido no dia da apresentação não quer dizer que somos “poser” e sim que o que vale é dizer o que queremos!
Isso de ter visual é claro que é muito bom, mas não é o que vai fazer a banda evoluir sabe? Se for pra ficar falando de visual na cena é melhor a gente fazer um desfile de moda (Risos)

Pedro Hewitt - Mais ou menos no final de 2018 vocês viram a necessidade de mais um integrante, fazendo assim a transferência de João Franklin para o Bass e Alexandre Durães para guitarra, fechando finalmente o quarteto grindástico. Como foi este UP para a banda?
Thaís De Aguiar - Conforme fomos tocando com a formação do Trio a gente foi vendo que estava faltando algo pra dar um peso e como o João tocava guitarra e não tinha um baixo, uma semana antes do Psica Festival resolvemos procurar um guitarrista novo, já que o Franklin resolveu aderir ir pro baixo. Vários nomes se passaram pela nossa cabeça e escolhemos um amigo nosso em comum que era o Alexandre, e pense em um menino que toca viu? Pegou as musicas em 2 dias e ainda arrebentou tudo no show. E é uma pessoa que a BadTrip não se arrepende de ter colocado!

Pedro Hewitt - Atualmente vemos a que ponto a população chegou. Julgam de forma insignificante quem não concorda com as idéias, usam o ódio como forma de argumento, se tornaram selvagens a ponto de bater nas próprias esposas, filhos, enfim. A BadTrip possui uma marca conhecida e totalmente coesa que acaba criando um impacto que incomoda bastante gente, não só pelo fato das letras e posturas que seguem, mas também por ter uma mulher no vocal. A banda em meio esse front, qual a esperança que esperam?
Thaís De Aguiar - Gosto bastante de falar sobre isso porque apesar de muita gente não gostar as minas estão mostrando a cara no Underground criando bandas, coletivos e produções e isso é fantástico! Bom para calar a boca de muita gente que é machista e acha que as minas não tem seu lugar.
A BadTrip foi uma das melhores coisas que aconteceram na minha vida em 2018 e até hoje muitas mulheres chegam até mim elogiando e dizendo que se inspiram de alguma forma, isso faz eu querer continuar e lutar pelo nosso espaço dentro do Underground nacional. Sempre procuro motivar as amigas de bandas que tenho espalhada pelo Brasil para que nunca desistam de resistir por causa de comentários maldosos. A esperança que procuro ter é que a cada ano que vá se passar mais mulheres venham para o front!

Pedro Hewitt - O respeito que vejo com vocês é bastante interessante, logo, foram chamados para ótimos festivais, com bandas de renome, tendo bons feedbacks. Como foram as experiências?
Thaís De Aguiar - Sou grata demais por terem nos aceitado de primeira, recebemos críticas construtivas no início que nos fizeram evoluir muito musicalmente.
As experiências foram incríveis, conhecemos pessoas que admiramos tanto, trocando ideias e contato. Tivemos mais reconhecimento e aprendizado. Nem sei explicar a sensação que foi,  muito feliz por todos convites!

Pedro Hewitt - Como anda a movimentação de protesto através das bandas pelo Norte? O que estão achando do cenário HxCx nacional em geral e das mulheres em palco, nos eventos e nos corres do Underground?
Thaís De Aguiar - A movimentação de protesto é bem visível! Aqui em Belém tenho muito orgulho das bandas que temos, tanto as novas como as antigas, cada vez mais resistência e a luta!
O cenário Underground tem sido cada vez mais forte, ainda mais no governo que estamos, com as censuras aos poucos aparecendo, mas o que nos deixa feliz é saber que isso não faz nenhum de nós se calar!
As mulheres no palco vem aparecendo mais, principalmente em festivais grandes, fiquei super feliz que o ForCaos de Fortaleza no Nordeste esse ano abraçou forte a cena das mulheres!
Tenho que citar o Coletivo Girls To The Front e a União das Mulheres no Underground, pense em um trampo foda!

Pedro Hewitt - O que vocês acham dessa galera que faz sucesso muito rápido hoje em dia, isto é, sobre o mercado mais acima?! E desses movimentos em prol do Rock atual, como coletivos, etc...? Em Belém e região possui uma galera bem DIY, mas já vi uma pequena minoria que não valem a pena nem saberem da existência.
Thaís De Aguiar - Hoje em dia temos uma ferramenta que é bem válida que é a internet onde tudo pode ser postado, comentado e compartilhado em segundos fazendo tudo se movimentar muito mais facilmente. Porém é preciso saber usar e movimentar!
Os Coletivos e Movimentos estão bem existentes mas ao meu ver ainda são pouquíssimos. Em Belém a cena é bem DIY, nós por nós sempre! A galera vai atrás de divulgar o seu trampo e o trampo das bandas amigas de uma forma muito boa e consciente. E a minoria a gente deve largar o foda-se não, é? Gente que tá pra atrapalhar nem devemos bater boca, isso é perda de tempo, só querem chamar atenção a ainda reclamam sendo que não fazem nada.

Pedro Hewitt - Com total humildade, quais os tipos de bandas na atualidade que merecem ser entendidas como Undergrounds e “médias”, e aquelas que, na opinião pessoal de cada um, claro, não mereciam ser?
Thaís De Aguiar - Em toda entrevista sempre tem a pergunta polêmica não é mesmo? (Risos)
Olha, eu posso não curtir o trampo de muitas bandas, mas se tem algo que eu faço é sempre respeitar o espaço de cada uma, acho que todo mundo merece tá onde está! Todo mundo luta nesse Underground pra ter seu espaço.
Mas as bandas que eu admiro e quero sempre ver na ativa é as seguintes (claro que não vou poder botar todas mas botarei as principais) : Klitores Kaos, Manger Cadavre?, SDM, Rolamento Atômico, UTSU, Pancreatite Noise, Dislexia, Pense, Eskröta, Surra, Deliquentes, Deathbanger, Antes do Erro, Cérebro de galinha (nossos padrinhos) Escárnio etc (Risos).

Pedro Hewitt - Não podemos negar que a banda com certeza possui alguns haters, ainda mais em Belém, não sei, mas qual o recado para estes em geral?
Thaís De Aguiar - Um belo de um Foda-se! Hahahhahahahhahaha (risada de bruxa)

Pedro Hewitt - O que podemos esperar dos próximos materiais e apresentações?
Thaís De Aguiar - Ainda esse ano pretendemos lançar mais coisas e podem ter certeza que a cada lançamento que faremos vai sempre vir mais pesado e rápido! As apresentações com certeza também serão insanas!

Pedro Hewitt - Finalizo dizendo que cada dia que passa me sinto honrado em vê-los conquistando os devidos espaços e representando de forma caótica o verdadeiro Underground. Logo menos nos vemos em Teresina, e quem sabe em Belém com algum dos meus projetos ou em algum split. O espaço é todo de vocês! Noise sempre!
Thaís De Aguiar - Quem se honra somos nós dessa oportunidade da entrevista e por você sempre de alguma forma nos apoiar! Com certeza trabalharemos juntos.
Noixxx Pedro!

Fotos por: Bruno Rafael - Diego Di Paula - Divulgação

Para mais informações, shows e merchandise: https://www.facebook.com/BadTripHC/?ref=br_rs

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About Pedro Hewitt

Trabalha desde 2002 com produção de shows em Teresina. Teve a oportunidade de trabalhar com grandes nomes do Heavy Metal e Rock and Roll como Paul Di Anno, Ira!, Hangar, Angra, Shaman, Andralls, Drowned, Clamus, Dark Season, Megahertz, Anno Zero, Empty Grace, Morbydia, Káfila, entre outros.