Review CD: Deafheaven - Sunbather

Imagine o resultado da mistura da sonoridade gélida do black metal norueguês, as harmonias instrumentais do shoegaze britânico, uma direção de arte minimalista com forte apelo art-pop nos encartes e merchandising e uma vibe ao vivo totalmente hardcore. Esta é uma tentativa simplista de descrever o mix entregue pelo duo norte-americano Deafheaven em seu segundo disco, o sensacional Sunbather.

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Digo simplista pois, depois de alguns dias ouvindo e vendo os materiais da banda disponíveis na web, percebe-se que o conceito criado por George Clarke (V) e Kerry McCoy (G) é algo que transcende as barreiras ou limites de suas próprias referências musicais. É black metal, mas ao mesmo tempo não é; é pop, sem ser. Confuso? Sim, com certeza. Mas é de uma confusão que beira a genialidade que estamos falando.

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O rock’n’roll nasceu do inconformismo, mas parece que o metal, e especialmente o black metal, um de seus subgêneros mais extremos, paradoxalmente, é também um dos mais conservadores. Novidades raramente são bem-vindas e bem-vistas no estilo, que há duas décadas chocou o mundo a partir da Noruega e depois disso, com poucas exceções, tem patinado em uma absoluta falta de criatividade, com bandas que imitam outras bandas compondo músicas que sempre parecem com algo que você já ouviu antes. A verve punk de caras como Euronymous, Fenriz ou Wagner Antichrist, ou melhor ainda, Cronos, Tom Warrior e Quorthon antes deles, não existe mais; o “do it yourself” dos criadores do black metal foi substituído por uma postura incompreensivelmente tosca em termos musicais e incompetentemente pretensiosa em termos de imagem; não vejo como classificar de forma diferente bandas onde as fotos parecem importar mais que a música.

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Voltando ao Deafheaven, e falando de fotos, você não as verá no encarte de Sunbather. Aliás, as três lâminas internas do digipack não contém nada além de um infinito amarelo chapado; a capa em tons de rosa com o logotipo em uma fonte estilo “Times” não dá a menor pista de que você está para escutar um disco de metal extremo. Mas quando a primeira música, Dream House, começa, o que se ouve é pura agressividade. Uma guitarra extremamente rápida e berros cortantes deixam claro que a porrada aqui é de verdade. Aí entram as harmonias, típicas de bandas como My Bloody Valentine, criando uma atmosfera dark entremeando a rispidez inicial, mas com uma construção bastante singular dos acordes. Bonito.

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Ao vivo, a dupla conta ainda com outro guitarrista, um baixista e um baterista para segurar a parada. Nos poucos vídeos disponíveis na internet, o que se vê são músicos usando jeans e tênis, com um jeitão meio nerd, comandados por um insano frontman, talvez o único membro performático. O caos sonoro do palco se multiplica na plateia e por alguns momentos parece que estamos diante de um show dos Dead Kennedys. Nas partes mais atmosféricas, o delírio é substituído por uma espécie de hipnose coletiva; ninguém desgruda os olhos da banda, apesar de não haver absolutamente nenhuma produção visual além das velhas caixas de retorno que toda banda underground usa. Seduzir com a música, essa é a regra.

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O Deafheaven é uma banda que dificilmente terá uma grande base de fãs no caretíssimo mercado de heavy metal brasileiro. É muito provável que, se ao menos for notada, seja inclusive execrada por muitos. Mas se você leu este texto até aqui, talvez esteja entre os poucos que vão procurar ouvir este Sunbather. A crítica o aclamou como um dos melhores discos de 2013. Nos EUA e Europa, a banda está tocando ao lado de bandas de diversos estilos – eles vão se apresentar, por exemplo, no Primavera Sound em Barcelona, ao lado do Arcade Fire, Pixies e Caetano Veloso, e logo depois no Fortarock, na Holanda, onde dividirão espaço com Iron Maiden, Slayer e Behemoth – mais um sinal de o que importa mesmo pra essa galera é fazer música e não fazer parte de uma cena. Pra mim, descobrir o Deafheaven foi uma experiência altamente positiva e mostrou que, com inteligência, subversão de padrões e amor pela música, os estilos mais extremos do metal, que eu tanto gosto, ainda têm muita coisa boa a oferecer. O caos agora veste rosa.

Ouça o disco na íntegra:
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About Fábio Pitombeira

Trabalha desde 2002 com produção de shows em Teresina. Teve a oportunidade de trabalhar com grandes nomes do Heavy Metal e Rock and Roll como Paul Di Anno, Ira!, Hangar, Angra, Shaman, Andralls, Drowned, Clamus, Dark Season, Megahertz, Anno Zero, Empty Grace, Morbydia, Káfila, entre outros.

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