Review CD: Ver-Ouvir-Calar, do Obtus, já nasce clássico

Resenhar um clássico não é mole não. Daqui uns tempos, “Ver-Ouvir-Calar”, esse primeiro compact disc propriamente dito do Obtus, vai ser obra de referência pra quem quiser reconstruir uma época, entender um contexto, ou simplesmente ouvir a boa música oriunda das vozes roucas da rua feita no Piauí nos primeiros anos do novo milênio.

[caption id="attachment_17678" align="alignnone" width="550"]Ver-Ouvir-Calar - Obtus Ver-Ouvir-Calar - Obtus[/caption]

O que faz de “Ver-Ouvir-Calar” um clássico instantâneo, um disco pra ficar na prateleira ao lado de um “Brasil”, de um “Nós Somos a América do Sul”, de um “Igreja Quadrangular do Triângulo Redondo”? O carisma e a simplicidade da banda, que foi, qual formiguinha, angariando fãs e admiradores com suas performances incendiárias? Talvez as letras de Chakal Pedreira, muito acima da média do que se fez de gratuito e infantil em matéria de “letra consciente” num passado nem tão longínquo; e, hoje, fazendo contrassenso escandaloso ao melodramático rock “moderno”, carregado no lápis de olho e escondido atrás de franjinhas pueris.

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“Ver-Ouvir-Calar” é um amalgama de tudo isso. E mais: compila 16 canções que atingem em cheio do motorista de ônibus ao político que rouba em nome do povo. Traduz para o ouvinte uma coleção de imagens da realidade social e política (num discurso bastante ácido, claro) do dia a dia do brasileiro, nordestino, piauiense, e que não viu ainda a cor da tal “ascensão de classes” bater à sua porta. A música de fundo, um hardcore pra lá de casca grossa.

[caption id="attachment_17679" align="alignnone" width="550"]Ver-Ouvir-Calar - Obtus Ver-Ouvir-Calar - Obtus[/caption]

O disco em si gerou bastante expectativa devido a atrasos, e, em meio a tantos, as inevitáveis mudanças de formação. Houve tempo até para um single de inéditas pós gravação, intitulado singelamente “Nokoo”, que saiu ainda em 2013. Mas nada disso fez o registro “caducar”; pelo contrário, quem levá-lo pra casa vai conhecer de cabeça mais da metade do disco, já vai saber cantar “Arenas Urbanas”, momento catarse do show do Obtus, há mais de dois anos no repertório, assim como “Defensores do Povo”.

O fato da demo-CD “Sangue no Olho” ter sido um registro tão emblemático não tira um segundo sequer do brilho de “Ver-Ouvir-Calar”. Este tem faixas que não deixam a peteca cair em relação ao anterior e mostram que terão uma vida tão longa quanto “Caravana” e “Tiros na Noite” na garganta dos fãs. Um trabalho pros que não tem medo de ver, nunca tiveram preguiça de ouvir e não ousam calar jamais.
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About Fábio Pitombeira

Trabalha desde 2002 com produção de shows em Teresina. Teve a oportunidade de trabalhar com grandes nomes do Heavy Metal e Rock and Roll como Paul Di Anno, Ira!, Hangar, Angra, Shaman, Andralls, Drowned, Clamus, Dark Season, Megahertz, Anno Zero, Empty Grace, Morbydia, Káfila, entre outros.

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