Degüella: "todo mundo mexe na música até ficar bem redonda"

Tocar Metal, mas com uma cara moderna, misturando Hardcore, Industrial e uma aproximação com a cena alternativa no uso de afinações baixas e harmonias variadas. Com essa proposta Pádua Belo (guitarra) e Fernando Castelo Branco (baixo) começaram a ensaiar com o nome de Degüella (uma referência à minoria indígenas mexicanas, o relativo dos “descamisados” no Brasil) no início de 2006.

[caption id="attachment_14784" align="alignnone" width="550"]Degüella - 2013 Degüella - 2013. Crédito da foto: Guilherme Muniz[/caption]

Não tardou para o Degüella começar a aparecer com bastante frequência nos espaços destinados ao estilo, indo de shows nos bairros extremos da cidade (Mocambinho, Dirceu Arcoverde) a festivais com maior estrutura em locais como o Espaço Cultural Noé Mendes (Concha Acústica UFPI) e Bueiro do Rock. A frequência de shows fez com que a banda registrasse duas faixas, “Spill” e “Engines”, ainda em 2006.

O EP de quatro faixas “Nada a Perder” sai em junho de 2008, um pouco antes da banda abrir a última noite do hoje extinto festival PI Pop. Um ano depois, em julho de 2009, o Degüella anuncia a suspensão de suas atividades.

Damos um salto para 2012. O guitarrista Fábio Gomes realiza o antigo desejo de ter um estúdio caseiro e não pensa duas vezes em reunir a última formação do Degüella para regravar algumas faixas e registrar temas inéditos. Destas sessões nasce “Headshot”, um full lenght de 12 faixas com produção do próprio Fábio e distribuição da MS Metal Press.

Full Rock: Para os leigos, o que significa Degüella e porquê Degüella?

Fernando:
Degüella é uma palavra que vem de um dialeto de índios mexicanos, seriam os 'degolados', ao pé da letra. Quisemos dar uma ideia de marginalização, no sentido de 'pôr à margem', exclusão de uma minoria; fazer uma espécie de relação imediata com um som que muitas vezes é "degolado", marginalizado, posto de lado e excluído, ou mesmo encarado como algo bizarro, pras massas.

[...] a gente cresceu ouvindo coisas parecidas, a gente se afina bem na hora de fazer música.


Full Rock: Como os membros da banda se conheceram, como foi o início de tudo?

Fernando:
Eu (Fernando) conheço o Pádua desde os 12 anos de idade. Ele tocou uma época com o Káfila, onde eu toquei 12 anos, acompanhei as bandas que ele teve anteriores ao Degüella, a Hi-Tec Hate e a Sound Creep, onde o Leopoldo já cantava. Ele, juntamente com o Fábio e o Delson vem de bandas de uma geração mais nova que a nossa, a gente dividia muito show antes de tocar junto. Eu e o Pádua juntarmos a banda foi algo tranquilo, a gente cresceu ouvindo coisas parecidas, a gente se afina bem na hora de fazer música.

Full Rock: As influências do Degüella são bem variadas, do metal ao industrial, quem é o "cerebro" da banda, em termos de arranjos, e quanto as letras, quem escreve?

Fernando:
É tudo feito de uma forma bem espontânea e coletiva. A ideia pode partir de mim, do Pádua ou do Fábio, mas nunca finaliza do jeito que chegou, todo mundo mexe na música até ficar bem "redonda" pra todos. As letras muitas vezes são minhas, eu faço e vou guardando, quando aparece a música eu apresento, mas se a métrica ficar complicada, a gente vai pra cima e mexe, na boa, sem essa de "ah, foi limado". É a forma democrática que a gente tem de todos interferirem, participarem e contribuírem com o processo. Como dessa vez a gente compôs de uma maneira diferente, durante o processo de gravação, sem ensaiar antes, o Fábio apresentou 90% das ideias das inéditas, eu entrei com as letras e foi uma questão de encaixa-las apenas.

[caption id="attachment_15464" align="alignnone" width="550"]Degüella - 2013. Crédito da foto: Guilherme Muniz Degüella - 2013. Crédito da foto: Guilherme Muniz[/caption]

Full Rock: quais as principais dificuldades que o Degüella tem enfrentado desde o início?

Fernando:
Particularmente, as dificuldades que eu encontrei com o Degüella foram um pouco diferentes das que eu enfrentei quando comecei a tocar com banda no início dos anos 1990. Não tinha grana, não tinha equipamento, não tinha celular, mp3, internet, muito menos estúdios de ensaio. De gravação tinha um, e não era uma coisa, digamos assim, "democratizada", era pra quem tinha muita grana. O Degüella já pegou uma série de facilidades nesse sentido, mas o perengue da grana continua. Tem de investir em equipamento, tem de pôr gasolina no carro (tem de ter o carro aliás), tem de pagar a hora do estúdio pra ensaiar, então tem de suar a camisa nos corres da vida. Essa é a batalha atual.

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Full Rock: Headshot foi lançado depois de um hiato, o que vocês estiveram fazendo nesse meio tempo?

Fernando:
O Pádua ficou tirando um som sem grandes compromissos com a The Mozo, tocando de MC5 a Odair José; o Fábio montou um estúdio em casa, gravou e tocou com a Schip; O Delson montou a As Dawn Breaks; o Leopoldo foi trampar com ecoturismo. Eu fiquei tocando com o Növa, numa praia totalmente fora do Degüella, mais pro alternativo.

Aquilo lá que você ouve de guitarra, por exemplo, na gravação, é real, não é plug-in.


Full Rock: Como foi o passo a passo da gravação de Headshot, e qual equipamento vocês utilizaram no processo?

Fernando:
Te digo que foi a gravação mais sui generis da minha vida. Meu 'aprendizado' em estúdio de gravação foi de ensaiar e chegar com tudo esquematizado pra otimizar o ritmo das sessões e não onerar a equação 'tempo x dinheiro'. Dessa vez, graças ao estúdio que o Fábio montou em casa, pude gravar em cima de ideias que já estavam sendo desenvolvidas, em pleno andamento, mas com calma, paciência, sem correr contra o relógio. Além disso o Fábio soube dosar bem o equipamento, então enquanto usava uma placa de som de última geração pra fazer a interfase, ele não abriu mão de bons valvulados ou microfones clássicos pra captação do som. Com essa febre dos home studios muita gente se cerca de tecnologia digital e esquece que muita coisa analógica ainda é a responsável pela mágica da coisa. Aquilo lá que você ouve de guitarra, por exemplo, na gravação, é real, não é plug-in. O Fábio, com todas as facilidades dos 'presets' teve a preocupação de manter isso. Eu fiquei bem à vontade com um set básico, tirando pedais de compressão e overdrive pra contrabaixo, não usei mais nada. O amplificador do baixo disponível no estúdio, inclusive, era bem semelhante ao que eu uso no meu backline pessoal, e o baixo, um Ibanez de cinco rodas, pois usamos afinações bem baixas, também deu conta perfeitamente do recado. Muito gratificante pra mim, como músico, ter aceitado subverter esse processo e viver essa experiência.

[caption id="attachment_14779" align="alignnone" width="550"]Deguella - Headshot Deguella - Headshot[/caption]

Full Rock: Quem produziu a arte da capa de Headshot? Foi ideia da banda ou externa?

Fernando:
A ideia da capa é centrada na letra da própria música. Era uma ideia bem mais 'brutal', algumas discussões em conjunto e resolvemos 'diluir' mais a ideia. Então o Assis Machado, baterista do Obtus, expandiu mais a ideia do tiro, que estava focada no ato 'atirar', não no impacto, que é o que trata realmente a letra. De fato, uma coisa que foi bem discutida por todos, não queríamos fazer, mesmo sem intenção, uma apologia gratuita à armas de fogo ou violência gratuita. Não preciso comentar aqui o problema mundial que são as armas, principalmente nas mãos de gente despreparada. Não precisaria, ainda por cima, a gente chegar dando ideia errada.

Full Rock: O estilo musical do Degüella, é bem nítido e bem vindo em nosso cenário musical, o disco conta com a participação de Chakal (Obtus) e Petillo (Into Morphin), ambos de bandas com estilo de certa forma diferente do Degüella, isso prova que é possível a união de bandas em nosso cenário musical?

Fernando:
Fora o fato de serem pessoas amigas de longa data, penso que o som do Degüella tangencia tanto a praia do Chakal quanto a do Petillo, daí eles estarem como convidados no disco. Escolhas bem naturais, sem forçar, sem apelar tipo "vamos chamar e ver no que dá". Quanto à união, tem em toda parte. Desunião também. Coisas do mundo, da vida.

[caption id="attachment_15461" align="alignnone" width="550"]Fábio Gomes com Petillo à esquerda. Chakal na direita. Fábio Gomes com Petillo à esquerda. Chakal na direita.[/caption]

Full Rock: O álbum Headshot, está disponível para audição em sites como Reverbnation e Souncloud; Álbuns virtuais parecem ter se tornado uma alternativa para as bandas no quesito “Divulgação”, até mesmo algumas já de longa data. Como tem sido o "Retorno" dessa estratégia para o Degüella?

Fernando:
É inegável que a música mudou totalmente com a chegada do mp3 e da portabilidade digital. Hoje não existem mais nas ruas lojas de vender música, as pessoas baixam o que querem, as gravadoras quebraram e artistas, grandes ou pequenos, tem de parar pra se reorganizar e estar a um passo adiante, de preferência criando a tendência desse próximo passo do mercado. Resolvemos não polemizar, não bater de frente, liberamos até porque quem pagasse pelo CD físico iria digitalizar e disponibilizar, então que fossemos nós. A resposta foi rápida e impactante, a banda estava parada há praticamente quatro anos e o interesse, não só pelas músicas inéditas, foi muito grande. O uso dessas 'ferramentas" é um passo sem volta. Mesmo a audição somente em streaming (sem baixar) é valiosíssima. Estamos imersos numa nova era, falta cair a ficha pra todos.



Full Rock: Quanto a shows, como andam as datas, vocês já tem parcerias para uma tour?

Fernando:
Estamos num processo de ensaiar pra preparar o show. Como disse antes, compusemos gravando, muitas coisas gravamos separados, nunca tocamos 40% desse repertório juntos. Estranho? Não, a maioria das bandas faz isso. Foi mais cômodo e confortável pra nós trabalhar, antes e depois da gravação, com "quilometragem livre". Agora é acertar esse repertório e fechar datas. Tem algumas coisas, uns convites, mas vai ser bem mais pro final do ano.

Full Rock: Estamos na expectativa de ver o Degüella crescer mais ainda, fiquem à vontade para se expressar aos leitores do Full Rock.

Fernando:
Agradecer o espaço nesse veículo de divulgação que serve de referência pro Piauí, pro nordeste e pro Brasil. Grande abraço pros que fazem e acompanham o Full Rock.
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About Fábio Pitombeira

Trabalha desde 2002 com produção de shows em Teresina. Teve a oportunidade de trabalhar com grandes nomes do Heavy Metal e Rock and Roll como Paul Di Anno, Ira!, Hangar, Angra, Shaman, Andralls, Drowned, Clamus, Dark Season, Megahertz, Anno Zero, Empty Grace, Morbydia, Káfila, entre outros.

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